sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Avaliação Audiológica Infantil


      Para o desenvolvimento da fala e da linguagem da criança o papel da audição é fundamental. Estudos comprovam que a detecção de alterações auditivas e a intervenção iniciada até os 6 meses de idade, garantem um desenvolvimento comparável com crianças normais, de mesma faixa etária que não tiveram nenhuma alteração auditiva. Daí a importância da detecção e intervenção ainda nos primeiros meses de vida! Essa avaliação engloba um conjunto de testes que tem como objetivo determinar se o bebê ou a criança tem audição normal, perda auditiva ou alteração de processamento auditivo, avaliando o funcionamento dos sistemas de audição periférico e central.
Esta avaliação não deve estar somente presa à obtenção dos limiares auditivos, deve ser um processo mais amplo onde se observa a criança, sua audição e seu comportamento frente ao mundo sonoro.
A observação do comportamento da criança durante o processo de avaliação audiológica pode fornecer pista de informações sobre o desenvolvimento global deste paciente, de modo a auxiliar o diagnóstico de outros distúrbios associado à deficiência auditiva. 
A avaliação da criança e de sua audição deve ser baseada nas respostas que a criança pode apresentar em cada momento, ao longo do seu desenvolvimento.
A avaliação auditiva infantil pode ser realizada através de procedimentos denominados objetivos, são aqueles que independem da colaboração e da interação do paciente com o examinador como Emissões Otoacústicas, Potenciais Evocados Auditivos e Imitanciometria. Os subjetivos são aqueles que necessitam de interação do paciente com o examinador e muitas vezes dependem dessa colaboração para a confiabilidade dos resultados, por exemplo, Avaliação do Comportamento Auditivo, Audiometria condicionada, Audiometria com Reforço Visual e Avaliação do Processamento Auditivo.

Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico

 Processamento auditivo envolve a detecção e a interpretação de eventos sonoros. O processamento auditivo é desenvolvido nos primeiros anos de vida e está relacionado com as habilidades auditivas, tais como: localização, memória, atenção e discriminação. A avaliação de processamento é um procedimento subjetivo que inclui vários testes que são selecionados de acordo com o nível de linguagem e a faixa etária do paciente.
É realizada com audiômetro de dois canais que permite a introdução de estímulos acústicos diferentes ao mesmo tempo na mesma orelha (tarefa monótica) ou ao mesmo tempo um em cada orelha (tarefa dicótica). Utiliza-se cabine acústica para controlar o ambiente, já que os estímulos acústicos vão provocar uma situação de escuta desfavorável.
A avaliação de processamento auditivo tem como objetivos contribuir no diagnóstico; direcionar o tratamento; determinar quais as habilidades auditivas que estão prejudicadas, assim como estabelecer um parâmetro de medida quantitativa de uma característica qualitativa.
Quando realizar essa avaliação?
  • Prejuízo das habilidades auditivas (atenção, localização, memória...)
  • Dificuldade de aprender a falar e/ou ler e/ou escrever;
  • Inquietude motora, agitação, desatenção;
  • Fala muito hã? O quê?
  • Lento para compreender o que ouve.
  • Dificuldade de escutar e/ou compreender em ambiente ruidoso
  • Problemas de fala : /l/ e /r/, /s/ e /ch/
  • Alterações de escrita e leitura.

Imitanciometria

A medida de imitância acústica da orelha média é um método objetivo e de fácil aplicação. É rápido, simples e oferece dados importantes no diagnóstico clínico, por isso deve fazer parte da avaliação auditiva básica. A imitanciometria inclui três etapas: a timpanometria, a compliância e a medida dos reflexos acústicos. A imitanciometria vai identificar as alterações de orelha média e determinar o funcionamento do sistema tímpano-ossicular e o arco reflexo do VIII par craniano (vestíbulo-coclear, sensitivo) e do VII par craniano (facial, motor).
O equipamento utilizado para realizar esse exame é o impedanciômetro, também chamado de analisador de orelha média. É capaz de medir o nível de pressão sonora em uma cavidade fechada.
O objetivo principal desse exame é determinar a existência ou não de patologias de orelha média.
Quando realizar essa avaliação?
  • Pode ser realizado em bebês complementando a triagem auditiva
  • Suspeita de alteração de orelha média (por ex.: otite, disfunção tubária, otoesclerose)
  • Criança que fala alto demais e pede muito para repetir
  • Dor de ouvido (otite), alergias respiratórias e/ou respiração bucal

Avaliação do Comportamento Auditivo

É indicada para crianças de 0 a 24 meses de idade. São utilizados estímulos sonoros instrumentais, verbais e tom puro modulado em freqüência. Essa avaliação é realizada por meio da observação das mudanças de comportamento decorrentes da apresentação de um estímulo sonoro. A interação entre a criança e o examinador é muito importante para o sucesso da avaliação, além do estado físico e psíquico da criança, uma vez que esse procedimento é subjetivo, portanto, depende da resposta do paciente.

O objetivo principal dessa avaliação é descartar possíveis perdas auditivas severas e profundas e acompanhar o desenvolvimento do processamento auditivo.
Quando realizar essa avaliação?
  • Presença de fatores de risco para alterações auditivas na história clínica (por ex. síndromes, herança genética, rubéola na gestação)
  • Atraso de linguagem, por exemplo, um bebê com um ano e meio de idade que ainda não fala nada
  • Não acorda quando exposto a um som de forte intensidade
  • Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor
  • Suspeita de perda auditiva por parte dos familiares

Audiometria Condicionada

Através de uma brincadeira previamente estabelecida com a criança, onde ela realiza determinada atividade motora (encaixe de brinquedo, apertar um botão ou colocar objetos em recipientes)  no momento em  que ouvir o som. A audiometria lúdica pode ser realizada com reforço visual, onde ocorre a apresentação de um estímulo sonoro seguido de um estímulo visual para condicionar a criança.
Realiza-se também a logoaudiometria lúdica na avaliação infantil, a criança é instruída a apontar para as figuras ouvidas ou executar a ordem dada, mesmo se o volume estiver baixo. Na maioria das vezes é a melhor resposta e mais fidedigna da criança.


Audiometria com Reforço Visual 

Este teste é mais efetivo para crianças de 6 meses a 3 anos. Preferencialmente, a criança fica em uma sala com tratamento acústico ou cabine acústica, sentada no colo da mãe ou do pai. Duas caixas acústicas, ligadas a um audiômetro, são posicionadas uma de cada lado da criança. A técnica de distração é então utilizada. Quando a criança encontra-se atenta ao avaliador, este apresenta um estímulo sonoro em uma das caixas acústicas e a resposta da criança é seguida da apresentação do estímulo visual, que se constitui de um desenho apresentado em televisão.
O objetivo do teste é avaliar a audição, obtendo-se limiares através do reforço visual de qualquer comportamento da criança frente ao estímulo sonoro, como, por exemplo, localizar a fonte sonora, piscar, ou arregalar os olhos.

Referências Bibliográficas

NORTHERN,JERRY L., DOWNS, MARION P.Audição na Infância5ª Edição. São Paulo. Editora Guanabara Koogan,2005.


Carvallo RMM. Fonoaudiologia, informação para a formação: procedimentos em audiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.

ROCKLAND, A. BORBA, J. Primeiros passos na fonoaudiologia. Conhecer para intervir nas patologias, distúrbios e exames fonoaudiológicos. 2ª Edição. São José dos Campos. Pulso Editorial, 2006.